-HISTÓRIA DO AUTOMOBILISMO BAIANO –
AS CORRIDAS DO FAROL DA BARRA.
A história do nosso
automobilismo começou em 1952 com uma
corrida organizada pelo Automóvel Club do Brasil, que teve a participação de pilotos brasileiros e de outros paÍses, em um circuito improvisado no Farol da
Barra em Salvador.
A largada era no Farol com os carros
seguindo pela Avenida Oceânica até o retorno na Rua Airosa Galvão, voltando
pela Rua Miguel Bournier, Rua Afonso Celso e chegando novamente ao Farol.
Neste celebre circuito que já viu ”voar” por suas
ruas, carros de ponta a nível mundial para aquela época, tais como Jaguar XK
120, Ferrari 166 MM, Ferrari 250 LM, Maserati, MG, Crisitália entre muitos
outros, o recorde ficou com o piloto paulista Chico Landi em 1954 com uma Ferrari 250
MM de 3 litros, com o tempo de 1 minuto cravado.
Ferrari no Farol da Barra em 1954
Ferrari no Farol da Barra em 1954
Após 1956 houve um intervalo de alguns anos sem corridas, porém elas recomeçaram em 1960, ai, já se utilizando mais os carros brasileiros, principalmente DKW, VW, DAUPHINE, Gordini, Simca e FNM JK.
Nesta época, algumas montadoras brasileiras já mantinham
departamentos esportivos com equipes de competições e pilotos contratados,
usando as corridas como campo de provas para desenvolvimento de seus produtos e
ao mesmo tempo para divulgação dos mesmos.
As fábricas que mais se envolveram com o automobilismo
foram, a Vemag, a Willys Overland e a Simca do Brasil. A FNM - Fabrica Nacional
de Motores, entrava de uma maneira semi oficial.
Aqui na Bahia por algumas ocasiões elas se fizeram
presentes, principalmente a Vemag e a Simca.
Nesta época da Barra os pilotos da Bahia que tiveram mais destaque foram
Paulo Lanat, Lulu Geladeira, Nelson Taboada, Carlos Arleo, Lev Smarchev, Adriano
Fernandes, Olavo Gam, Zelito Gil Ferreira, Ilton Pedrosa e José Luis Moura
Lima. Também correram por aqui os pilotos Ciro Caires, Bird Clemente, Mario
Cesar Camargo Filho (Marinho), Gegê Bandeira e Chico
Landi, entre muitos outros.
PROVA DE ARRANCADA E OS PRIMEIROS RALLYES
PROVA DE ARRANCADA E OS PRIMEIROS RALLYES
De 1952 até a metade da década de 60 foram realizadas várias corridas no circuito da Barra e também alguns rallyes, sendo o primeiro vencido por José Luis Moura Costa e uma prova de arrancada na Cidade Baixa que infelizmente terminou em uma tragédia, com a morte do piloto Fernando Scafa, o que causou uma grande comoção na cidade e fez com que as autoridades proibissem as corridas por algum tempo.
Em 1966
voltaram a ser realizadas novas provas de Rallye, saindo de Salvador com destino
a outras cidades do interior, como por exemplo Itabuna e Paulo Afonso, entre outras.
Vencedor do primeiro Rallye da Bahia - José Luis Moura Costa
Vencedor do primeiro Rallye da Bahia - José Luis Moura Costa
AS CORRIDAS NA
CENTENÁRIO
500 Km da Bahia - 1968
De 1968 a 1972, a Avenida do Centenário foi palco de emocionantes corridas de automóveis. Um dos templos do automobilismo brasileiro, onde foram realizadas além das provas locais, varias regionais a exemplo do Torneio Norte Nordeste e nacionais como o Campeonato Brasileiro de Formula V e os famosos 500 km da Bahia.
A pista da Avenida Centenário tinha
a largada em frente onde era até pouco tempo o Habib’s, sendo que no canteiro e
na pista paralela que dá acesso ao Shopping Barra e Jardim Brasil ficavam
os boxes. O sentido horário era invertido em relação ao fluxo de tráfego normal
da avenida.
Esta inversão tinha três motivos
principais: primeiro, evitar que após as corridas ou à noite o pessoal dos
pegas ficasse utilizando a pista para fazer corridas clandestinas. Segundo,
para tornar a entrada dos boxes mais segura e eficiente e por fim, conseguir
uma “reta”oposta maior, onde os carros alcançassem mais velocidade final.
Circuito da Avenida Centenário - 1969
Ao todo o percurso utilizado media 3.090 metros, com dois retornos em U, além de quatro curvas intermediarias. As curvas do Calabar eram as mais perigosas devido à quantidade de postes, pela proximidade do canal e principalmente por serem curvas de média a alta velocidade. A do Calabar de dentro era a mais veloz e gostosa de fazer, tinha também a do cemitério e a oposta ao cemitério. No mais, eram “retas” meio curvas onde os carros andavam sempre em aceleração plena.
Ao todo o percurso utilizado media 3.090 metros, com dois retornos em U, além de quatro curvas intermediarias. As curvas do Calabar eram as mais perigosas devido à quantidade de postes, pela proximidade do canal e principalmente por serem curvas de média a alta velocidade. A do Calabar de dentro era a mais veloz e gostosa de fazer, tinha também a do cemitério e a oposta ao cemitério. No mais, eram “retas” meio curvas onde os carros andavam sempre em aceleração plena.
A
maior velocidade (perto dos 200 km/h para os carros de mais potencia) era
sempre atingida no final da reta oposta aos boxes, ai vinha uma forte freada
para fazer o retorno do posto ou como alguns chegaram a chamar, a “curva do côco”.
Por
sua posição serpenteando ao longo de um vale, permitia que um numeroso público
(falava-se na época em cerca de 40.000 pessoas) ficasse acomodado nas suas
encostas com uma visão privilegiada da corrida, como se fossem arquibancadas
naturais.
O
recorde da Centenário ficou pertencendo à Alfa Romeo P33 da equipe Jolly
Gancia, tendo ao volante José Carlos Pace, com o tempo por volta de 1m 30,1
seg. a uma média de 123,462 km /h, obtido nos treinos dos 500 km da Bahia em
1969. Para efeito de comparação a esta época os carros com excelente preparação
giravam em torno de 1m 38,4 seg. , a uma velocidade média aproximada de 111,939
km/h.
Costumam hoje em dia dizer que as corridas aqui eram desorganizadas, que atrasavam, que não tinham segurança e até que o público invadia a pista. Não é verdade, a Centenário era uma pista nova com excelente pavimento, tinha o policiamento bem posicionado e o público afastado dos locais de alto risco ficando geralmente nas encostas.
Comparadas às corridas de rua do
resto do país, posso afirmar sem medo de errar que as nossas corridas eram mais
seguras e mais organizadas que a maioria das provas de rua daquele tempo, porém
se compararmos aos padrões de hoje acharemos uma loucura em termos de
segurança, sem guard-rails, com postes, árvores, canal e meio fios sem proteção
alguma. Mas era assim mesmo em todo o país, corria-se até em pavimentação de
paralelepípedos!
Nos bastidores
das corridas
Muitas vezes me perguntam como era o
ambiente nos bastidores e no entorno das corridas daquele tempo, como era o
convívio entre os pilotos, se rolavam festas, como eram as paqueras, a
visibilidade na imprensa, etc...
O ambiente entre os pilotos, era como sempre foi e continua sendo até nos dias atuais em todo o mundo automobilístico, muito competitivo, cada qual cuidava dos seus interesses. Éramos na grande maioria, amigos fora das pistas porém lá dentro era outra coisa, a rivalidade falava mais alto ! É preciso entender que a época era outra, as pessoas em geral tinham uma vida menos corrida, as ofertas de lazer eram bem menores que os dias atuais, o que tornava uma corrida de automóveis uma atração imperdível para grande parte da população da cidade, nos fins de semana de corridas, a vida de Bairros como Barra, Barra Avenida, Graça e Ondina era totalmente alterada, tudo em função do evento, que era divulgado pelos jornais e televisões com muita antecedência.
Existiam pilotos de várias camadas sociais, pessoas mais simples, como também membros da "alta sociedade", tinham de estudantes a empresários bem sucedidos, além de pilotos da velha guarda, alguns já consagrados das corridas do Farol da Barra nos anos 50 e outros se iniciando no automobilismo esportivo.
Todos no entanto tinham que ter
algumas coisas em comum independente do talento e origem social de cada um,
primeiro tinham que ter dinheiro para cobrir o alto custo das corridas, quer
por recursos próprios, das suas empresas ou da família, quer por meio de uma
equipe ou de patrocinadores. Também tinham que ter muita dedicação e muita
coragem para competir numa pista de rua como aquela e por fim tinham que ter
uma boa equipe e um bom carro. No final dos anos 60, a faixa etária dos pilotos
baianos era muito variada, pois ao mesmo tempo que tinham os pilotos
veteranos da época das corridas do Farol da Barra, como Lulu Geladeira por exemplo,
que era o mais velho, tinha 42 anos em 1968, enquanto os mais jovens estreantes
daquele ano tinham apenas18 anos!
Evidentemente que fora das pistas e do automobilismo esta grande diferença de idades se refletia muito nos relacionamentos, o que era normal, pois enquanto os mais jovens que na maioria eram solteiros tendiam a ter uma maior amizade entre eles e aproveitar ao máximo as festas, paqueras e tudo o mais que as corridas proporcionavam, os mais velhos em sua grande maioria eram pais de família casados e muitos já com filhos.
Tinha também o pessoal da faixa etária mediana que em muitos casos tinham namoradas fixas ou noivas, as quais ajudavam também na cronometragem da equipe.
Era comum haver algumas solenidades posteriores às provas, muitas delas nas sedes das emissoras de TV que apoiavam as corridas, para entrega dos troféus e diplomas aos vencedores e participantes, mas informalmente sempre tinham algumas comemorações feitas pelas equipes logo após as corridas. Lembro-me para citar entre outras, comemorações nos clubes sociais Bahiano de Tênis e Yacht Club da Bahia, no Hotel da Bahia e também de comemorações da equipe AF na casa de Luis Caetano Moniz Barreto.
Evidentemente que fora das pistas e do automobilismo esta grande diferença de idades se refletia muito nos relacionamentos, o que era normal, pois enquanto os mais jovens que na maioria eram solteiros tendiam a ter uma maior amizade entre eles e aproveitar ao máximo as festas, paqueras e tudo o mais que as corridas proporcionavam, os mais velhos em sua grande maioria eram pais de família casados e muitos já com filhos.
Tinha também o pessoal da faixa etária mediana que em muitos casos tinham namoradas fixas ou noivas, as quais ajudavam também na cronometragem da equipe.
Era comum haver algumas solenidades posteriores às provas, muitas delas nas sedes das emissoras de TV que apoiavam as corridas, para entrega dos troféus e diplomas aos vencedores e participantes, mas informalmente sempre tinham algumas comemorações feitas pelas equipes logo após as corridas. Lembro-me para citar entre outras, comemorações nos clubes sociais Bahiano de Tênis e Yacht Club da Bahia, no Hotel da Bahia e também de comemorações da equipe AF na casa de Luis Caetano Moniz Barreto.
As equipes e os pilotos
baianos que correram no circuito da Avenida Centenário.
EQUIPES- Escuderia AF, Equipe Racio, Equipe Cravo Bauer, Equipe Cobape, Equipe Curvello, Equipe Norcar, Team Jerry, Equipe RM, Equipe Dick, Equipe CIF, Equipe Sanas e Catú Motor.
PILOTOS- Adriano Fernandes, Mario Monteiro, Lulu Geladeira, Leonardo Godoi, Antônio Martins, Mauricio Fainstein, André Burity, Antônio Carlos Pitta Lima (Toncar), Jaime Pena Cal, Elias Uanus, Fred Leal, John Brusell, Mauricio Castro Lima, José Luis Bastos, Ivan Cravo, Renato Acioly, Roberto Bahia, Silvio Rivault, Carlos Alberto Medrado, carlos Eduardo Ferraz Silva, Antônio Justo Couto, Euvaldo Pinho, Nagib Fadul, Tuica, Gil Ferreira, Carlos Leal, Antônio Medeiros Neto, Luiz Mendonça, Otávio Cravo, entre outros.
No
final dos anos 60 o automobilismo baiano se equiparava ao de muitas capitais do
país, tinhamos boas Equipes com carros competitivos e excelentes pilotos que
vinham competindo regularmente em provas de diversos estados do Brasil.
Tinhamos também boas oficinas especializadas em preparação de motores e até uma
pequena indústria fabricando protótipos para as competições, que foram os
protótipos ELVA, produzidos pelo kartista Élcio Paiva.
Em
1972 as corridas em circuitos de rua foram proibidas em todo o país, devido à
falta de segurança e ao grande número de acidentes que vinham acontecendo, até com
mortes de pilotos e espectadores.
Como a Bahia não tinha ainda um autódromo e as promessas governamentais feitas à época não foram cumpridas, o esporte a motor em nossa terra enfraqueceu e em alguns anos ficou completamente estagnado, equipes foram desfeitas,patrocinadores sumiram, carros e equipamentos foram descartados e talentos foram esperdiçados!
Após
a proibição das corridas de rua, algumas equipes baianas como a Catú Motor,
Cravo Bauer, RM e Norcar, ainda continuaram competindo no Ceará que tinha um
autódromo, porém com alguns anos foram perdendo seus patrocinadores, pois não
era vantajoso para um patrocinador continuar, uma vez que os eventos eram
realizados em outro estado.
Mauricio Castro Lima
Salvador, 20 de maio de 2017
____________________________________________________________________________
Edição desta matéria para a revista VILAS MAGAZINE de junho de 2017.
____________________________________________________________________________
Edição desta matéria para a revista VILAS MAGAZINE de junho de 2017.
Clique no link abaixo para ver a matéria de Tiara Reges na revista Vilas Magazine
https://issuu.com/vilasmagazinelaurodefreitas/docs/vilas_magazine_junho_web/20
Fotografias do acervo dos pilotos, Roberto Bahia, John Brusell, Mauricio Castro Lima e Carlos Medrado. Noticias de jornais de época.
Reprodução parcial em fotografia, da revista Vila Magazine, edição de junho/2017.
https://issuu.com/vilasmagazinelaurodefreitas/docs/vilas_magazine_junho_web/20
Fotografias do acervo dos pilotos, Roberto Bahia, John Brusell, Mauricio Castro Lima e Carlos Medrado. Noticias de jornais de época.
Reprodução parcial em fotografia, da revista Vila Magazine, edição de junho/2017.
4 comentários:
Muito bom ver o nome de meu pai " Mario Monteiro" em suas postagens parabens
Bruno, seu pai foi um grande amigo, tenho boas lembranças dele na Retificadora Moderna, obrigado pelo comentário.
Só queria saber porque não têm meu nome, eu participei da corrida no centenário, meu Fusca foi preparado por Zé Arerê ( hoje do alerta geral, batista da oficina internacional.
Na parte da matéria que cita os pilotos, termina assim: "entre outros ", logo se sinta incluído aí.
Postar um comentário