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domingo, 12 de outubro de 2014

A cruz do padre



CRÔNICA DE UMA ÉPOCA (2)



Em agosto de 1970 estava viajando em um Fusca 1600 rumo a Fortaleza, na companhia dos pilotos Renato Accioly, Carlos Alberto Medrado e Antônio Garcia de Medeiros Neto (Medeirinho), para participar do GP Cidade de Fortaleza que seria realizado no final de semana próximo.
Nos anos 60/70 era uma verdadeira aventura ir de automóvel até o Ceará, pois a estrada muito ruim tinha longos trechos de cascalho e terra, além de ser muito pouco povoada o que dificultava os abastecimentos, os pernoites e até mesmo as refeições. Quebrar um carro então era um problemão, tínhamos que levar peças de reserva tais como velas, bobina, platinado, etc...além de ferramentas para qualquer eventualidade que surgisse.
Após um primeiro longo e cansativo dia de viagem, já em território pernambucano, paramos ao escurecer em um posto para jantar e abastecer o veículo, uma vez que num raio de cerca de 400 km não teria mais nenhum posto de gasolina e ainda faltavam uns 200 km para a próxima cidade onde pretendíamos dormir.
Enquanto estávamos jantando no pequeno restaurante do posto, escutamos a conversa de alguns caminhoneiros sobre uma história de assombração que segundo eles aparecia na estrada em uma curva na descida de uma serra alguns km adiante, contavam que muitos motoristas morriam após se assustar e perder a direção caindo no precipício.



Medeirinho que era muito curioso e falante começou logo um papo com os motoristas e ficou sabendo detalhes da tal lenda, que o lugar chamava-se "a cruz do padre" e que poucos se aventuravam por ali durante a noite. 
Terminamos de jantar e nos preparamos para seguir viagem quando Renato que não é muito chegado às coisas do além disse que queria passar a noite ali mesmo no posto. Argumentamos que não tinha onde dormir que éramos quatro e não daria para dormir no carro, etc...
Depois de muita confusão conseguimos convencê-lo a entrar no carro e seguir viagem. Após uns quarenta minutos de estrada e seguindo as informações que tínhamos, conseguimos identificar o local da assombração e passamos por lá o mais rápido possível.
 Confesso que com todas as histórias que ouvimos fiquei também um pouco sugestionado e enquanto nos afastávamos rapidamente  daquele local  lúgubre e escuro, olhei para trás (estava no banco traseiro do Fusca)  tentando visualizar alguma coisa fora do comum e para minha surpresa vislumbrei um vulto distante na escuridão à margem da estrada.
Comentei com o pessoal, mas é óbvio que nenhum deles cogitou de voltar para ver o que era, pelo contrario, Medeiros acelerou mais o valente fusquinha e a cruz do padre logo ficou para trás!




Material utilizado:Texto e fotografia - Mauricio Castro Lima.

oldraces.blogspot.com m.castrolima.arq@gmail.com


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