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segunda-feira, 28 de março de 2022

Em destaque

A fotografia mais visualizada até hoje no Old Races é esta aí, Circuito da Avenida Centenário em agosto de 1969, Prova Paulo Lanat, Elias Uannos (esquerda) e Mauricio Castro Lima.





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segunda-feira, 21 de março de 2022

As duas vitórias da GTA e de Terra Smith

Em 19 de outubro de 1969 foi realizado no Autódromo Virgílio Távora no Ceará, os 500 Km de Fortaleza, prova denominada oficialmente de GP do Nordeste. 

A corrida foi vencida pela dupla Marivaldo Fernandes/ Luiz Fernando Terra Smith, pilotando uma Alfa Romeo GTA  1600 cc da Equipe Jolly Gancia de São Paulo.

 Detalhe interessante é que este carro inicialmente não iria correr, tendo a Equipe Jolly resolvido inscreve-lo de ultima hora, o que desencadeou uma primeira corrida (contra o tempo), onde Luiz Fernando "pilotou" um caminhão F 6000 com a Alfa GTA vencedora na carroceria, em uma verdadeira maratona pela BR 116, conforme conta o próprio Luiz Fernando no texto abaixo:




 # A epopeia da viagem São Paulo a Fortaleza #

Alguns amigos como Luis Carlos Carrano, Erik Von Eye, Jovino Benevenuto Coelho e outros vinham me cobrando há tempos o relato da viagem que fiz de SP a Fortaleza para participar de uma corrida automobilística. Em função disto hoje resolvi fazer o relato.
A Jolly; firma sediada em São Paulo na década de 60 / 70 era a representante Alfa Romeu e Ferrari, sendo habilitada também para fazer a manutenção dos mesmos, e para promover e divulgar a sua marca e os produtos que representava. Possuía duas Alfas GTA, uma 2000 cc e outra 1600 cc. para participar de corridas.
Certa ocasião em uma reunião na sua sede em SP. foi decidido que seria enviada para Fortaleza a GTA 2000 para participar do GP Nordeste (500 km. de Fortaleza) a ser realizada no dia 19 de outubro de 1969, tendo como pilotos Emilio Zambelo e Ubaldo Cezar Lolli. Os preparativos foram feitos com duas semanas de antecedência e o carro foi enviado para lá.
Passada uma semana em outra reunião chegou-se à conclusão que a prova seria muito mais importante do que se previa e seria uma oportunidade da Jolly ser mais conhecida nesta região, já que esta prova contaria com mais equipes do RJ, SP, RG, além de outros estados do norte e nordeste. Em função disto a Jolly resolveu que a outra Alfa GTA 1600 deveria participar e os pilotos seriam o Marivaldo Fernandes e Luiz Fernando Terra Smith. Aí surgiu um problema, que seria o tempo para este carro estar no local da prova, já que via aérea seria impossível. Assim sendo só restou via terrestre, mas o tempo era escasso, então de imediato me comprometi a resolver o problema. Contatei um amigo empresário que sabia ser proprietário de alguns caminhões e relatei a ele o problema, e de pronto me disse que poderia ir até a fábrica pegar o caminhão que quisesse e ainda colocaria um funcionário a minha disposição para o que fosse necessário. Ao chegar á fabrica e analisar a sua frota de caminhões, percebi que o único em condições de enfrentar os 3200 km ou mais de estrada até Fortaleza ,era um Ford 6000 a gasolina já que a sua manutenção preventiva havia sido feita há dois dias.
Peguei o caminhão com o funcionário que havia sido designado para me acompanhar e me dirigi até a Jolly para colocar a GTA na carroceria do caminhão com a recomendação que a amarração fosse a mais apertada possível ,já que enfrentaria longos trechos de serra e seria o tempo todo de PÉ em BAIXO para tentar chegar lá dentro do prazo.
Peguei a estrada , Pé em Baixo e o carro na carroceria perfeitamente estável. Ao me aproximar do 1ºposto da polícia fui logo parado e aí pensei comigo mesmo, estou ferrado, excesso de velocidade, carteira de motorista que não era para dirigir caminhão etc. Para minha surpresa o guarda quando viu o carro de corrida logo se entusiasmou e queria saber tudo a respeito do carro e para onde estava indo. Depois de saciar a sua curiosidade fui liberado e me desejando uma ótima viagem e sucesso na prova. Lá fui eu fazendo das tripas coração com este caminhão que bebia uma gasolina que não estava no gibi. Para encurtar a história fui parado em todos os postos de fiscalização e respondendo as mesmas perguntas. Depois de 3 dias lá estava eu em Fortaleza são e salvo sem nem um furo de pneu ou qualquer outro inconveniente. Resumindo o Marivaldo e Eu ganhamos a corrida e voltei para SP com o caminhão já em um ritmo de passeio.
Bons tempos e muitas boas histórias.
Abraços aos amigos que queriam saber um pouco mais desta epopeia.

Luis Fernando Terra Smith

                                          ***

RESULTADO FINAL DA CORRIDA:

1º Marivaldo Fernandes/Luis Fernando Terra Smith - Alfa GTA, 200 v, 4h38m50s2/10, 107.913 km/hr (SP)
2º Silvio Toledo Pisa/Rafaele Rosito, Prot. VW, (RS)
3º Alex Dias Ribeiro/João Luis da Fonseca, Prot Camber 2000 (DF)
4º Olavo Pires/Jorge Pappas, AC VW (DF)
5º John Brussel/Jose Luis Bastos , Puma (BA)
6º Carlos Fernandes/Arialdo Pinho, Prot VW (CE)
7º André Gustavo/Luis Carlos Brás, VW (DF)
8º Milton Amaral/Jose Morais, Prot VW (RJ)
9º Enio Garcia/Antonio Martins, Elgar (DF)
10º Waldemar Santos/João Quevedo, Prot VW (CE)
11º Arivaldo Carvalho/Eduardo Pina, Alfa Romeo 1600 (SE)
12º Fernando Ary (CE)/Francisco Lameirão (SP), VW
13º Mario Olivetti/Lair Carvalho, Alfa GTA (RJ)

IMAGENS DIVERSAS:

Alfa GTA 2000cc da Jolly Gancia.

Bino Mark II.

Lola T 70 dos irmãos De Paoli.

Alfa Romeo GTV de Mario Olivetti.

Puma da Escuderia AF, seguido da Alfa GTA vencedora.

Alfa GTA, Lola T70 e Puma da  AF, na reta dos boxes.

Elgar GT  de Brasília e Puma da Escuderia AF.

Elgar GT de Ênio Garcia na reta dos boxes.

O cearense Nenem Pimentel e seu Karmann Ghia.

Box da equipe baiana, Escuderia AF.


NOTÍCIAS:

Revista O CRUZEIRO>

Revista Quatro Rodas>

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sábado, 19 de março de 2022

42º RALLY INTERNACIONAL DE REGULARIDADE DE MONTEVIDÉU

 


A Bahia vai se fazer presente no cenário internacional de Rally de Regularidade, para veículos antigos e históricos.

Piloto experiente, campeão de várias etapas nacionais, Jorginho Cirne, o maior colecionador de veículos antigos da Bahia e um dos mais destacados do Norte e Nordeste, parte para uma aventura inédita em seu currículo e na história do antigo mobilismo baiano e regional.
Com seu bólido alado, um MGB inglês 1974, lindíssimo e várias vezes premiado em eventos, embarcou para participar do 42* RALLY DE REGULARIDADE DE MONTEVIDEU, sua primeira experiência a nível internacional.

Será o único representante do Norte/Nordeste num total de 16 participantes brasileiros e para tal, enfrentará uma viagem de aproximadamente 4000 km entre ida, volta e percursos.
Promovido por um dos clubes mais antigos do Uruguai, o evento conta mais de 75 inscritos, sendo muitos deles já bastante experientes na modalidade.
O percurso é composto de três etapas, uma em Montevidéu e outras duas em Punta Del Este e Lá Barra, com algo em torno de 300 km cada.

O evento de padrão internacional e disputado por pilotos renomados vindos das mais longínquas regiões, acontecerá em 24 a 26 de março.

 Um fato interessante que diferencia essa competição é que não será permitido o uso de qualquer equipamento auxiliar para os pilotos e navegadores, além do cronometro. Tem que ser “no braço” e no entrosamento da dupla.
Para nosso piloto Jorginho, uma dificuldade a mais a ser enfrentada, será o fato de que a planilha é toda projetada em km/h e o seu carro marca milhas por hora.
Outra característica própria desse Rally de regularidade é que cada piloto escolhe a sua velocidade e terá que cumprir a planilha dentro da velocidade escolhida e perder o mínimo de pontos.


Jorginho, que já participa há nove anos do CBR (Campeonato Brasileiro de Regularidade de Veículos Históricos), promovido pela FBVA (Federação Brasileira de Veículos Antigos), em companhia do seu navegador Vaguinho, comentou que essa aventura é uma novidade que enfrentará, disputando com pilotos bastante experientes e com regras diferenciadas.

ACGouveia
18/3/2022

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A EQUIPE BAIANA:























O CARRO: MGB ano 1974



Desejamos a Jorginho Cirne e sua equipe, uma boa viagem e que tenham muito sucesso na competição!

Old Races


Fotografias e texto de Antonio Carlos Gouveia, edição/revisão por oldraces.blogspot.com

domingo, 13 de março de 2022

Gaiatices literárias de Gouveia

 

                      Meu primeiro carrinho de bebê

 

Tem momentos na vida em que buscamos reviver boas lembranças do nosso passado.

Participo de um grupo de antigo mobilistas (maníacos por carros antigos) em que é comum termos lapsos de memória ligados a experiências com os carros dos pais e avós.

-  Tenho esse Ford Bigode porque meu avô nos levava para comprar quebraqueixo e pé-de-moleque aos domingos num igualzinho quando eu tinha sete anos no interior de xorroxó!!!”- diz um deles.

-  lembro quando nos mudamos para a capital e nosso tio fez nossa mudança numa Studebaker igual a essa que comprei para restaurar a cinco anos atrás e ainda não acabei a reforma”- conta o outro.

Quer ver problema é quando o sujeito chega em casa num Simca Chambord 1960 e a esposa dispara: 

-  O que é isso? Posso saber?

-  Vai sujar o piso da nossa garagem de óleo com essa tranqueira cheia de vazamentos!

-  Estou querendo reformar minha cozinha e você gasta dinheiro com esse ferro-velho inútil!

A única saída nessa hora é encontrar um bom argumento tipo:

-              Meu compadre me devia dinheiro e a forma que achei de recuperar a grana foi aceitando esse carro como pagamento. Vale muito mais do que ele me devia. Ou ainda...

-              Meu colega de repartição foi transferido para outra filial e teve que vender esse carro com urgência. Comprei por apenas $ #*&,@@ , uma verdadeira bagatela. Oportunidade não se deve desperdiçar!


Ficaria milionário se conseguisse comprar os carros antigos pelo valor que eles dizem que pagaram, quando as esposas os questionam!

O que mais me impressiona é a capacidade de recobrar memórias longínquas para justificar a aquisição de suas máquinas do tempo.

- Tenho essa Vemaguete azul calcinha com teto bege igualzinha a que meu padrinho tinha quando me levou para a minha primeira comunhão. Lembro como se fosse hoje!


Mea-culpa.

Não fujo a regra.

Lembro perfeitamente o meu primeiro carrinho de bebê.

Não me deixavam “pilotar” sozinho. Alegavam que eu era muito jovem ainda.

Desde então, segui com a ideia fixa de que um dia teria o meu e então daria “cavalo-de-pau” em frente ao coreto da pracinha pra impressionar as bebezinhas com suas mamadeiras recheadas de Nanon.


O tempo passou. 

Amadureci.

Carrinho de bebê era para os fracos!

Aos cinco anos, já não me satisfazia puxar uma ambulância da Trol amarrada a um barbante.

Coisa de menino amarelo!

Pilotei o meu primeiro off-road. O inesquecível jipinho de lata, movido a pedal.

Muito econômico!

Hoje entendo porque sou incondicionalmente Jipeiro.


Minha perícia, minhas habilidades foram notadas pelos familiares e em pouco tempo meu tio me levou para sua fazenda e caí no campo a trabalhar.



Aos nove anos, campeão por duas vezes em esportes radicais, tirei as rodinhas da minha Monark Jubileu de Ouro. Foi quando entendi porque meus amiguinhos tinham pavor de Merthiolate.



Tudo bem, sei que passei noventa dias com o braço engessado aos doze anos mas foi um pequeno vacilo que dei na patinete ao cair no buraco da calçada lá da rua. Aquela boca-de-lobo aberta era velha conhecida. Já havia capotado ali com meu carrinho de rolimã, mas foi só um galo na testa e mamãe colocou uma faca em cima, para não aumentar muito de tamanho.


Quando aos dezesseis anos, evolui da Berlineta Caloy Dobravelzinha para a Maxi-Push, passei a ser o ban-ban-ban entre os colegas de ginásio. Cada dia após a ultima aula era um tal de levar as normalistas na garupa para tomar sorvete na praça do coreto. 


Seu Januario era um excelente mecânico e já cuidava dos carros de papai há tempos.

Devido a consideração que dispensava a minha família, aceitou me vender seu fusquinha, nas condições de pagamento que minha mesada suportava. Mas tive que esperar até setembro quando fiz dezoito anos. Ele não queria rolo com papai.

O motor 1200cc não aguentava subir a ladeira do quebra-bunda, perto lá de casa, comigo, meu primo Claudio e três colegas do cursinho pré-vestibular.



Hoje, me questiono quando vejo em minha garagem meia dúzia de três ou quatro relíquias aguardando “pequenos reparos”.



Por que será que adquiri esses hábitos?

Depois de muita reflexão cheguei a seguinte conclusão:

Ernestina, minha babá, namorada do Seu Januário (mecânico), costumava passear comigo nos braços a tardinha pelas bandas da oficina, e nessas investidas deixou cair raspa de ferrugem na minha mamadeira.

Ferrugem no sangue não tem cura!!!!!!!!!

 

ACGouveia

05/03/2022

 

Texto e fotografias de ACGouveia.

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terça-feira, 8 de março de 2022

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 

Nossa homenagem a todas as mulheres e em especial a estas cinco guerreiras que conseguiram chegar à categoria máxima do automobilismo mundial, 
a Formula 1.

Maria Teresa de Filippis - 1958/1959
Lella Lombardi - 1974/1975/1976
Divina Galica - 1976
Desiré Wilson - 1980
Giovanna Amati - 1992

Old Races


segunda-feira, 7 de março de 2022

Torneio Norte Nordeste 1969

O pole position Andre Burity, com o Puma nº 17 da Escuderia AF da Bahia, atrás dele está o Opala dos irmãos Da Fonte de Pernambuco e ao lado o Puma de Lulu Geladeira..

Nas disputadas corridas da Avenida Centenário dos anos 60, aqui está um belo documentário fotográfico da largada de uma das etapas do Torneio Norte-Nordeste de Automobilismo, onde os baianos após dominarem brilhantemente os treinos , marcando P1 e P2 e P3, respectivamente Andre Burity (Puma VW 1800 nº17 da Escuderia AF), Lulu Geladeira, (Puma Volkswagen 1800cc nº71, também da Escuderia AF) e Roberto Bahia , (Protótipo RM nº 169 da Equipe Retificadora Moderna), tiveram vários problemas durante a prova, que acabou sendo vencida pelo pernambucano Fernando Burle com um Volkswagen 1600cc.

Na largada o Puma de Burity falha, no que o Opala de Da Fonte desvia e sai na terceira posição. Note-se a excelente largada do Protótipo RM, que dispara na frente, seguido de Lulu Geladeira.


Confira as posições de largada nesta notícia de jornal da época.

 
Fernando Burle, foi o grande vencedor da prova, com este Fusca 1600 cc.

Fotografias do acervo de Andre Burity, Mauricio Castro Lima e Carlos Medrado.

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domingo, 6 de março de 2022

Agradecimento

 Agradeço a todos os amigos, que hoje me felicitaram pela passagem do meu aniversário, tanto pessoalmente quanto por telefone, e-mail, ou pelas redes sociais.

Muito obrigado e um grande abraço a todos !


Na Basílica de Nosso Senhor do Bonfim, com a minha esposa Ana, agradecendo por mais um ano de vida.


Mauricio C. Lima


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quinta-feira, 3 de março de 2022

Tenente Siegfried e os Pintacudas da Barra

Nos anos 60 e 70, a Avenida Oceânica, no trecho compreendido entre o Farol da Barra e Ondina, era palco de verdadeiras corridas clandestinas, os famosos "pegas", ou "rachas", como são denominadas em outras partes do país.
 Além dos pegas propriamente ditos, tinha também muita baderna, muita gritaria, som alto e o inconfundível ronco dos motores "envenenados", além é claro dos famosos "cavalos de pau" e piruetas as mais diversas...
Evidentemente que isso incomodava bastante os moradores da região, pois na época a Barra era ainda um bairro essencialmente residencial, fazendo com que os mesmos chamassem a policia que invariavelmente aparecia e acabava com a brincadeira.
Os "play boys" da Barra e adjacências eram conhecidos como "Os Pintacudas do Farol", em uma alusão ao ás do automobilismo internacional, Carlo Pintacuda.
Nos anos 60, na repressão aos pegas, a policia baiana utilizava ainda Rural Willys e Fusquinhas, que evidentemente tinham desempenho limitado para fazer frente aos carros preparados e velozes dos Pintacudas, porém a partir dos anos 70 a situação começou a mudar com a chegada das velozes Chevrolet Veraneio, (as Chebas) e com a criação do Pelotão Águia da PM, que utilizava velozes motocicletas de grande cilindrada.
Neste contexto entra em cena o então Tenente Siegfried Frazão Keysselt, que era o comandante do Pelotão Águia e também o terror do pessoal dos pegas!
Abaixo veremos o excelente texto escrito por Antonio Carlos Gouveia, onde o mesmo relata a relação de amizade que desenvolveu posteriormente com o já Coronel Siegfried e como o mesmo acabou vindo a participar do grupo dos Pintacudas que até os dias atuais ainda se encontram em animados bate papos automobilísticos...

Ao Tenente Siegfried (in memoriam) 

Saudosos Anos 70.

 O Farol da Barra (marco histórico de Salvador-Bahia) era o “playground”dos Playboys. Nos reuníamos todas as noites após a sessão de namoro, para um bate-papo sobre temas inesgotáveis. Uma balaustrada que insiste em permanecer ate hoje reavivando nossas agradáveis memórias de um tempo mágico, sem sombra de dúvida o melhor das nossas existências. 

Fanáticos por carros - com o tempo fomos intensificando esse gosto até os dias atuais -invariavelmente nos agrupávamos sobre a tal muralha que aliás deu lugar a historias, estórias, lendas e causos que se perpetuam até hoje. Muitos afirmam que viram motociclistas andarem sobre ela, cuja largura não deve ter mais que trinta centímetros. O lado que dá para a praia deve ter algo em torno de oito metros de altura e uma alvenaria de pedras assustador. Uns afirmam que o autor da façanha foi Lolô. Para outros, foi Laurinho. Todos ases das duas rodas. Lendários comentários folclóricos. 

A bela avenida que segue do Farol até o Cristo, era palco de desfile de máquinas reluzentes, ícones da indústria nacional, roncando sinfonias pelos canos de descarga, principalmente aos domingos a noite quando um imenso engarrafamento se formava no trecho e ninguém se atrevia a buzinar ou reclamar. Todos contribuíam para aquela bagunça orquestrada. Parar para falar com um amigo e travar o transito, era símbolo de prestigio, de popularidade. Dava status! 

Playboy que se prezava cumpria o seguinte ritual. Domingo pela manha, praia de Plakafor; a tarde, lavar o carro com Baé no Dique do Tororó e a noite, desfilar na Barra, carro polido, rodas de magnésio espelhadas com kaol, toca-fitas tocando Berry White, gravado do Studio de AF Barros (saudoso Arthur) ou em Crezo. Por volta da meia-noite, após um pastel e refri no Porão Italia, do simpático Candinho, quando o fluxo do transito ia se findando, restavam no “Muro da Barra” os Pintacudas. 

As resenhas eram sempre em torno das melhorias implantadas nas maquinas. Um carburador duplo, uma injeção eletrônica, uma mola da suspensão rebaixada, fustigavam as mentes deles e invariavelmente o assunto resultava num “pega”, um racha para tirar as duvidas. A noite não seria perfeita se não fechasse com chave de ouro. 

Corre! Lá vem o Pelotão Águia. 

Comandado pelo Tenente Siegfried, era um carreirão bonito, pra ninguém botar defeito. Cada um tomava seu rumo, e entocava sua máquina na garagem. Agora era torcer para que a noticia não chegasse aos ouvidos dos pais. Rapaz, esse Tenente Siegfried não deixa a gente quieto! 

A imprensa não deixava por menos. Sentava o cacete! Esse Tenente Siegfried não aliviava. Não havia playboy que não temesse e respeitasse aquele “paladino da ordem pública”.

 Passam-se os anos. Formei em Direito. Procurador do Município de Vera Cruz, vou ao Comando Geral da Polia Militar no Quartel dos Aflitos, numa missão que me fora confiada pelo prefeito daquele município. Deveria convidar o Comandante para uma solenidade.

Encaminhado ao gabinete, trajado de terno e gravata, me apresento àquela autoridade e formalizo o convite. Sobre a mesa, uma placa onde se podia ler: "Coronel Siegfried". 

Não resisti... Perguntei:

-O Senhor por acaso é o Tenente Siegfried do Pelotão Águia dos anos 70? 

Ele parou, me olhou e disse: - E o senhor é o pintacuda Gouveia dos pegas da Barra? Em seguida complementou com um comentário que hei guardar para sempre: - Não pense que eu não lhe pegava porque não conseguia. Na verdade, a minha intenção era fazer com que vocês fossem para suas casas. Acreditava naquela juventude, e hoje você me aparece mostrando que eu tinha razão. Infelizmente hoje, o comportamento dos jovens é bem diferente. 

Resumindo o que se passou a partir desse encontro, nos tornamos amigos. Criamos um grupo dos “Playboys da Barra” e passamos a nos encontrar periodicamente. O Coronel Siegfried fez parte do grupo social e sempre foi para nós um motivo de satisfação, orgulho e respeito. Levou seu filho adolescente para conhecer a nossa historia, como forma de incentiva-lo em sua formação moral.

Um homem não deixa de existir enquanto for lembrado. 

A.C.Gouveia 

20/2/2022

Nota complementar:

No dia 20/2/2022, envolto em boas lembranças, desenhei essas palavras e as dediquei ao meu grande amigo Coronel Siegfried. Era algo que já planejava realizar desde quando ele nos deixou inesperadamente. Escrevi e guardei. Em 25/2, cinco dias depois, recebo a noticia de que havia sido inaugurado o Museu da Policia Militar cujo nome lhe prestava uma justa homenagem. Apesar da minha timidez, passei a encaminhar a alguns amigos comuns a nós e ao saudoso amigo. Minha singela homenagem!




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Fotografia e texto original de Antonio Carlos Gouveia