Noticias equivocadas, mal elaboradas e cheias de erros, informações falsas e/ou preconceituosas contra o automobilismo da Bahia e de todo o Nordeste, era uma constante na internet de uma década atrás, porém hoje em dia esta situação vem mudando, em parte graças a algumas páginas e grupos de automobilismo, que pesquisam com seriedade o assunto e também graças ao trabalho incansável do Blog Old Races, que desde 2013 vem trazendo a público a verdadeira história do nosso automobilismo dos anos 50, 60 e 70.
Abaixo está uma notícia de 2007, cuja autoria desconhecemos, sobre o GP de Fortaleza de 1969, com vários equívocos e informações erradas sobre o automobilismo do Nordeste. Os grifos em amarelo nas principais distorções são nossos...
O automobilismo brasileiro
estava em crise em 1969. Interlagos estava fechado, e assim, a “Meca” do automobilismo
brazuca, que era São Paulo, ficara sem um local onde realizar suas corridas. O
efeito disso foi sentido no automobilismo de um modo geral, em 1968 e 1969. As
corridas eram poucas, e o fechamento de Interlagos sem dúvida foi um dos
fatores que causou a morte da Fórmula Vê, embora os cariocas tenham feito de
tudo para manter a categoria viva.
Com Interlagos fechado, o autódromo do Rio ganhou a posição de
mais importante autódromo do Brasil, onde ocorreram algumas das mais
importantes provas do biênio 68/69. Curiosamente, realizaram-se corridas em alguns locais inusitados, como
Salvador e Campinas, ao passo que outros locais tradicionais, como
Petrópolis e Piracicaba, sem contar as provas de estrada do Rio Grande do Sul,
fechavam as portas para sempre.
O nordeste nunca foi um
local pujante no automobilismo. Entretanto, esporadicamente realizavam-se corridas em diversas cidades.
As equipes de fábrica
estiveram presentes em diversas corridas realizadas em Recife em meados dos
anos 60. Salvador, Natal, Maceió e Fortaleza realizaram provas, geralmente
disputadas por pilotos regionais. Estas freqüentemente contavam com menos de 10
carros, algumas com meia dúzia ou menos. Não interessava: o ponto era correr. E
alguns ídolos locais surgiram, como Lulu Geladeira, Arialdo Pinto, Armando
Barbosa, Neném Pimentel.
O que faltava no nordeste era um autódromo, e foi exatamente isso
que o governo estadual do
Ceará resolvera construir. A pista ficou pronta em 1968, e foi batizada
de Autódromo Virgilio Távora. A corrida de inauguração, realizada em 12/1/1969, só contou com pilotos
regionais, e foi ganha por Lulu Geladeira, com um Puma VW.
Marcar corridas em lugares longínquos nunca foi uma estratégia que
deu muito certo nos calendários brasileiros. Grande prova disso foi o
calendário do primeiro Campeonato Brasileiro de Fórmula Vê, que contava com
provas em Blumenau, Brasília, Porto Alegrem, Belo Horizonte, nenhuma das quais
foi realizada. A Federação Paulista freqüentemente “reservava” datas para
cidades como Bauru, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, que nunca
realizavam provas. Ou
seja, marcar uma prova do campeonato brasileiro para o Virgilio Távora, nos
idos de 1969, era um ato de otimismo.
O automobilismo dessa época
às vezes demonstrava um grande potencial que acabava não sendo realizado, por
uma série de fatores. Coisas que deixavam uma esperança de que o esporte se
desenvolveria no país. O entusiasmo pelas Mil Milhas, a temporada de 1965, a
vitória de Bird Clemente no Uruguai. Uma dessas coisas foi o GP do Ceará de
1969.
Os campeonatos brasileiros,
durante muito tempo, não passavam de campeonatos paulistas. Gaúchos raramente
viajavam para correr em Interlagos, havia poucos cariocas, e mineiros, e os
paranaenses e catarinenses também eram insulares. Os nordestinos ficavam no
nordeste, e os brasiliense e goianos no Planalto Central. Ou seja, o que
poderia se esperar de uma corrida de campeonato brasileiro em Fortaleza, em
pleno 1969?
Está certo que os prêmios não seriam baixos. O GP pagaria
NCR$10.000,00 para os vencedores, NCR$5.000,00 para os segundos colocados, e
$3,000.00 para os terceiros. Isso sem contar com NCR$1.000,00 em prêmio de
largada dos carros que viessem do Sul (os procedentes do próprio Nordeste
ganhariam menos) Colocando em perspectiva, o preço de tabela de um fusca era
NCR$11.000,00, e o Opala mais barato custava NCR$16.763,00. A revista QR
custava NCR$3,00, uma suculenta lagosta ao termidor num restaurante do Recife,
NCR$9,00. As diárias no hotel mais caro do Recife começavam em NCR$40.00. Em
suma: era uma boa grana. A Federação Cearense obteve os recursos junto aos
governos de outros estados, Pernambuco, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande
do Norte.
Assim que, pilotos de diversas áreas do país decidiram que valia a
pena a viagem para o Nordeste. Pilotos de diferentes áreas se cotizaram e
alugaram carretas, e acabaram participando equipes de São Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília, Salvador, Aracaju, Fortaleza e até do longínquo Rio Grande
do Sul, a 4147 km de distância.
O nordeste, acostumado com
corridas de meia dúzia de carros, geralmente humildes fuscas, DKWs e Gordinis,
de repente era invadido por verdadeiros bólidos para a época: uma Lola T70, do
mesmo tipo que ganhara Sebring no começo do ano; a famosa equipe Jolly com suas
Alfa GTA; o protótipo Bino Mark I, na mão de pilotos cariocas; o lendário Chico
Landi, com um protótipo baseado em uma ex-Maserati esporte, que pertencera a
Fangio; um AC, de Olavo Pires; o protótipo Patinho Feio, de Brasília, que
surpreendia carros bem mais potentes, além do melhor que o Nordeste tinha a
oferecer, inclusive o Puma de Lulu Geladeira e o Karmann Ghia de Neném
Pimentel. Ao todo, 22 carros.
Entre os pilotos, muitas feras: Marivaldo Fernandes, Emilio
Zambello, Alex Ribeiro, Chico Landi, Ubaldo Lolli, Chiquinho Lameirão (correndo
para uma escuderia local), Antonio Carlos Avallone, Milton Amaral, Rafaelle
Rosito, Carlos Erymá, Mario Olivetti.
Para muitos a viagem foi difícil. A própria equipe Jolly, que
acabaria vencendo a prova, só decidira que participaria do evento na
quarta-feira, e teve que literalmente correr muito para chegar em Fortaleza a
tempo. Luis Fernando Terra Smith, que compartilhou a Alfa 25, também foi
co-piloto do caminhão Ford F600, durante a bagatela de quinze horas seguidas!!!
Nos treinos a Lola não fez feio, e marcou a pole position. Os bem
intencionados irmãos De Paoli tinham pouca experiência para domar o monstro de
400 HP e concepção moderna. Muitas vezes, marcavam voltas mais rápidas ou a
pole-position, como nessa corrida, mas nas corridas deixavam a desejar. Quem
sabe, teria sido melhor passar mais algum tempo obtendo experiência com carros
menos potentes. Mais tarde, com o Avallone-Chrysler, a história foi mais ou
menos igual.
Mas a Lola sairia na frente, seguida de Ubaldo César Lolli, com
uma das Alfa GTA, a de 1900 cc, só um segundo atrás da Lola. Em terceiro,
largariam Marivaldo/Terra Smith, seguidos de Fernando Pereira/Carlos Eryma, com
o Bino, Chico Landi/A.C.Avallone, com a Maserati disfarçada, José Morais/Milton
Amaral, com um protótipo VW, Rafaele Rosito/Silvio Toledo Pisa, com Protótipo
VW, Lulu Geladeira/André Buriti, com Puma, Fernando Ari/Chico Lameirão, com VW,
Alex Ribeiro/João Luis da Fonseca, com o Patinho Feio, o KG de Neném
Pimentel/Samuel Cohen, e o resto. Muitos carros marcaram tempos entre 1m20 e
1m23, prometendo pelo menos bastante briga no pelotão intermediário.
Na prova, De Paoli devia estar pensando em lagostas e praias, e
não viu a bandeirada, perdendo para as duas Alfas de Ubaldo e Marivaldo. De
Paoli ainda chegou a passar Marivaldo, mas logo abandonou, preocupado com um
ponteiro acusando alta temperatura. Desistiu, para não ter um grande prejuízo
com o motorzão Chevrolet fundido. Mas depois constatou-se que o marcador estava
com defeito, e poderia ter continuado na prova. Ubaldo forçou demais a sua GTA,
e acabou abandonando, deixando o caminho livre para a dupla Marivaldo/Terra
Smith. Alguns dos outros carros fortes também ficaram pelo caminho, como o
protótipo de Landi e o Bino Mark I, e em segundo chegaram Silvio Toledo Pisa,
de São Paulo, fazendo dupla com o gaúcho Rafaelle Rosito. Em terceiro, o
Patinho Feio de Brasília surpreendeu mais uma vez, com Alex Dias Ribeiro.
Entre os pilotos da “terra” (?) os mais bem sucedidos foram os baianos
Brussel/Bastos, que chegaram em quinto com um Puma, seguidos de uma dupla do
Ceará, Carlos Fernando/Arialdo Pinho, com um elegante protótipo VW made in
Ceará. Nenem Pimentel e o seu KG não chegara até o final. ..........
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Considerações gerais sobre a matéria em questão:
1- O automobilismo brasileiro em 1969 não estava em crise, ao contrario, foi um dos anos mais importantes do esporte no Brasil.
2- A ausência de Interlagos que estava em reformas (68/69), em nada prejudicou o automobilismo, ao contrário ajudou a fortalecer o automobilismo de outros estados.
3- Afirmar que " foram realizadas corridas em locais INUSITADOS, como Salvador", é no minimo uma demonstração de total desconhecimento da história do automobilismo brasileiro, visto que a cidade do Salvador já promovia corridas oficiais importantes, até com participação de pilotos estrangeiros, desde o ano de 1952. Vale lembrar que em Salvador nos anos de 68 e 69, foram realizadas provas de 500 Km válidas pelo campeonato, com a participação de pilotos de vários estados brasileiros.
4- Afirmar que o Nordeste nunca foi pujante no automobilismo, "que realizavam corridas esporádicas a maioria com menos de 10 carros, às vezes meia dúzia"..., é mais um monte de absurdos onde o autor desconhece mais uma vez a verdadeira história de uma região que tinha até seu próprio campeonato e onde 3 estados, Pernambuco, Ceará e Bahia sobressaiam-se no cenário nacional, até com industria própria de protótipos de corrida.
5- A afirmação mais absurda porém, que chega a ser até hilária, é chamar a dupla baiana José Luis Bastos/John Brusell de pilotos da terra..."Entre os pilotos da “terra” (?) os mais bem sucedidos foram os baianos Brussel/Bastos, que chegaram em quinto..".
Nos dias atuais já virou uma coisa corriqueira nos órgãos da imprensa quando se dirigirem aos estados da região Nordeste, agem como se fossem uma coisa só, um só povo e uma só cultura...,"NORDESTINOS"! Nada contra os demais estados do Nordeste, ao contrário, todos são maravilhosos, com seus costumes próprios e a sua cultura e identidade, Ceará é cearense, Pernambuco é pernambucano, Sergipe é sergipano, Alagoas é alagoano e por aí vai..!!
Nós aqui na Bahia somos Baianos..!!!
Mauricio C. Lima
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